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Entenda o que é a pobreza menstrual, quais são as suas consequências e saiba o que pode fazer para combatê-la.

Por Júlia Romanin e Letícia Araujo


 O que é a pobreza menstrual?


   Em 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o direito das mulheres à higiene menstrual como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. A pobreza menstrual afeta mulheres e meninas em todo o mundo e vai muito além da falta de dinheiro para comprar produtos de higiene menstrual adequado. Ela denuncia um problema global da falta de acesso à água, saneamento básico e desigualdade social.



Imagem: Reprodução


   Infelizmente essa é a realidade de milhões de meninas e mulheres, direitos básicos são considerados itens de luxo em muitos países, inclusive aqui no Brasil. Aproximadamente 1,5 milhão de mulheres brasileiras vivem em casas sem banheiros, e cerca de 213 mil meninas que frequentam escolas não têm banheiros em boas condições de uso – 65% dessas garotas são negras.


Quanto custa menstruar?

  Além da necessidade de acessos básicos como saneamento básico e banheiros em situações adequadas, um fato que potencializa a pobreza menstrual é o valor gasto com absorventes. Durante cerca de 37 anos, desde o primeiro ciclo menstrual até a menopausa, mulheres tem que arcar com uma despesa a mais do que os homens: estoques de absorventes externos, internos e protetores de calcinha, e com isso a menstruação sai cara.

  O custo da menstruação é alto demais para quem tem pouco. Uma mulher tem cerca de 450 ciclos menstruais durante a vida e utiliza, em média 20 absorventes por ciclo. Considerando estes números, estima-se que sejam usados 10.000 absorventes durante toda a idade fértil. Se considerarmos um custo médio de R$ 0,60 por absorvente, chegamos ao valor de $6.000,00.



Imagem: Reprodução


O que podemos fazer para combater a pobreza menstrual?


  O primeiro passo é normalizar a menstruação, afinal estamos falando de um processo natural do corpo. Uma forma de fazer isso é acolher e informar meninas a respeito do tema antes mesmo da primeira menstruação. De forma que, desde crianças, elas possam entender que menstruar não precisa e nem deve ser motivo de vergonha, pelo contrário, é sinal de que está tudo bem com o corpo.

   Meninos também devem ser engajados no assunto desde cedo, assim, as gerações seguintes poderão tratar a menstruação como ela deve ser tratada: com naturalidade e mais leveza! Quanto mais falarmos a respeito, mais pessoas se tornam conscientes de um problema que ainda é pouco debatido. Fazendo isso, maiores são as chances de mobilização para transformar a realidade ao nosso redor.


Projetos Sociais 

  Além do diálogo e conscientização, que são de extrema importância nessa pauta, conhecer, apoiar e fazer parte de projetos sociais pode ser um passo muito prático e mais efetivo de imediato. Conheça alguns projetos voltados para o combate à pobreza menstrual:

  A Casa 1 se uniu ao Projeto T.P.M.! – Transformando o Período Menstrual, para coletar absorventes higiênicos e distribuir nas cestas básicas da Casa 1. Serão colocados absorventes nas 560 cestas básicas, que são doadas por mês pelo projeto para pessoas em vulnerabilidade social já cadastradas no sistema deles.

Para ajudar diretamente a Casa 1: https://www.casaum.org/como-ajudar/doacao/

Para ajudar diretamente o Projeto TPM: https://www.projetotpm.org/seja-um-transformador

  Há também o projeto ‘Absorvidas’ que combate pobreza menstrual em presídios. A iniciativa foi criada por uma estudante do Rio de Janeiro para levar bioabsorventes e conhecimento aos “presos que menstruam” (Referência ao livro de Nana Queiroz, que retrata a realidades das mulheres em cárcere no Brasil) . 

  Para viabilizar a iniciativa, foi criada uma campanha de financiamento coletivo com o intuito de arrecadar R$ 30 mil em 30 dias. Em apenas 17 dias, o valor foi alcançado e ao final do período o total foi de R$ 31.355,00. Com o dinheiro, o Absorvidas começou o projeto-piloto das ações propostas. Entraram em contato com os fornecedores: a Herself, que fez os bioabsorventes por R$ 11 a unidade, e a Cooperativa Libertas, que criou os saquinhos em que os produtos seriam guardados pelas detentas.


Assistir para aprender

  Outra forma eficiente de conscientização pode ser assistindo documentários ou filmes que abordem o tema. Por isso temos a sugestão de um documentário disponível na Netflix chamado "Absorvendo o Tabu", ou em inglês, "Period. End of Sentence", dirigido por Rayka Zehtabchi e produzido por Melissa Berton, ganhando o Oscar de Melhor Documentário Curta-Metragem em 2019. 



Poster do documentário Period End of Sentence


  Com apenas 26 minutos vemos a realidade feminina de uma comunidade rural da Índia, com problemas em relação ao saneamento básico, muitas mulheres utilizavam absorventes de panos para conter o sangue, porém ele não ajudava muito, tanto que 1 a cada 5 meninas desistiram de estudar. O projeto The Pad Project criado por alunos americanos com ajuda de sua professora, tem o intuito de ajudar essas mulheres, levando e ensinando a produzirem seu próprio absorvente descartável e mais barato do que é disponibilizado, assim conquistando a independência financeira e ajudando as mulheres a não terem futuras doenças.


Projetos de Lei no Brasil e no mundo.

 

  Em 2020, a Escócia foi o primeiro país do mundo a aprovar o projeto “Period Poverty” (menstruação de baixa renda) argumentando que mulher nenhuma precisa se responsabilizar pela compra de absorventes no período menstrual, durante a sessão Monica Lennon discursa: 

“Todos concordamos que ninguém deve se preocupar com a origem de seu próximo tampão, absorvente ou material reutilizável. Estamos prestes a aprovar essa legislação, que é líder mundial. A Escócia não será o último país a deixar a “Period Poverty” do período para a história, mas temos a chance de ser o primeiro”. 

  No início de 2021, a Câmara dos Deputados brasileira discutiu sobre o tema e a possível aprovação de distribuição de absorventes higiênicos no SUS (Sistema Único de Saúde) para as mulheres em situações de extrema pobreza, com o Projeto de Lei 61/21. 

“É raríssimo a disponibilidade de absorventes higiênicos para quem vive em situação de vulnerabilidade social ou em situação de rua”, explica a autora da proposta, deputada Rejane Dias (PT-PI).

  Além do Projeto de Lei 128/21 que obriga o Poder Público a fornecer absorventes gratuitamente para as pessoas cadastradas no CadÚnico (Cadastro Único). Porém, não foi o primeiro projeto do tema a ser tratado, tivemos alguns como o Projeto de Lei 4968/19 que realiza a distribuição de absorventes higiênicos para todas as alunas das escolas públicas, e a isenção de impostos sobre os Produtos Industrializados (IPI) para os absorventes, com o Projeto de Lei 3083/19.