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Justiça absolve suspeito de estuprar Maria Ferrer e gera discussões na internet

Por Larrissa Godencio

Foto: Ana Carolina Porto/Flickr/CC

 No dia 9 de setembro o juiz Rudson Marcos, da 3º Vara Criminal de Florianópolis, absolveu o empresário André Camargo Aranha, acusado de dopar e estuprar a blogueira Mariana Ferrer durante uma festa em Florianópolis. Os detalhes do caso, que ocorreu em 2018, não são nenhuma novidade já que Mariana usou suas redes sociais diversas vezes para contar o que havia acontecido e pedir por justiça – mas o veredito reascendeu debates na internet sobre impunidade e violência sexual no Brasil.

 O caso de Mariana é terrível e faz parte de uma enorme lista de crimes sexuais que ocorrem no Brasil diariamente. Segundo o 13º Anuário de Segurança Pública, lançado em 2018, sete pessoas são estupradas por hora no Brasil; dessas, 82% são mulheres e 54% tem menos de 13 anos. Apesar disso o tema ainda é pouco discutido pela sociedade e tratado como tabu, abrindo espaço para preconceitos e acusações contra a vítima – como o caso da menina de 10 anos que engravidou do próprio tio e sofreu diversos ataques de desconhecidos.

 Mesmo que maioria dos casos ocorra contra meninas é importante lembrar que uma violência nunca tem gênero, idade ou lugar e pode ocorrer de inúmeras formas, quer sejam idosos, presidiários ou até mesmo dentro de um relacionamento, vindo do próprio companheiro (o chamado estupro conjugal). "[O dado] desmistifica que esse crime é praticado por um homem muito violento que vai te abordar numa praça escura à noite. Os números revelam que o espaço doméstico é extremamente violento no Brasil, por conta de ações de pessoas em que as vítimas confiam. Falar que isso está ocorrendo no seio da família é um tabu", diz Samira Bueno, diretora do Anuário. 


 A maioria das vítimas possui alguma conexão com o abusador – no caso de André, ele era sócio do clube que Mariana frequentava e era embaixadora – o que impede muitas denúncias. Segundo esse mesmo Anuário apenas 7,5% das vítimas de violência sexual notificam a polícia, seja por medo de retaliação do agressor, da humilhação de se expor ou pela simples descrença na justiça – e que 50% dos agressores são pessoas próximas da vítima.
 E muitas vezes essa descrença se mostra verdadeira: de acordo com a Marie Claire, os exames realizados na época encontraram o sêmen de André na calcinha da vítima e a ruptura de seu hímen; além disso, imagens de câmeras mostram Mariana deixando o clube cambaleante, agarrada às paredes e pedindo por ajuda. Mesmo assim o juiz responsável invalidou a denúncia por “falta de provas” e acatou a versão do empresário de que nunca teria tocado na blogueira. 

  E se Mariana tinha todas as provas necessárias e ainda assim foi desacreditada pelas autoridades, a situação é ainda mais desesperadora para aquelas que contam apenas com o próprio depoimento, ou para aquelas que não conseguem sequer bancar um advogado. Carolina Solis, que acompanhou o veredito pelas redes sociais, diz que desfechos como este a fazem questionar a justiça do país e temer por outras mulheres. “É algo que me entristece profundamente como mulher e ser humano”, afirma a universitária. “E que ao mesmo tempo nos deixa ainda com mais medo”.