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A educação sexual é um tema que deve ser tratado nas escolas?

Por Carol Solis

Discussões sobre a educação sexual nas escolas ainda provocam muita polêmica. Especialistas afirmam que isso ocorre pelo pensamento errôneo de pais, familiares e até mesmo professores sobre o que é educação sexual. Porém, houve uma evolução no aprendizado das pessoas em relação ao tema.

Imagem retirada do site do Centro do Professorado Paulista

A educação sexual é um tema que divide opiniões, principalmente quando se fala em abordá-lo nas escolas. Numa pesquisa do instituto Datafolha sobre essa questão, realizada com 2.077 pessoas em 130 municípios, no final de 2018, o número de favoráveis à adoção dos conteúdos nas salas de aula foi maior que os contrários: 54% a favor, 44% contra e 2% disseram não saber. Há setores da sociedade brasileira que defendem que o assunto só deva ser tratado em casa, pelos pais da criança. O presidente Jair Bolsonaro já chegou a afirmar que “quem ensina sexo para a criança é o papai e a mamãe”.

       Em entrevista dada ao site Nova Escola, a psicóloga e educadora Mary Neide Damico Figueiró, doutora na área de educação sexual pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), constata: “Nos últimos anos, houve uma evolução no aprendizado e na consciência de pais, professores, gestores e alunos a respeito da importância da educação sexual nas escolas. Mas o recuo produzido pelos conceitos ultraconservadores do novo governo pode colocar por terra o pouco que caminhamos”.

       Mesmo com avanços verificados nos últimos anos, Mary Neide, que pesquisa e estuda o tema por mais de 30 anos, diz acreditar, de acordo com sua experiência, que atualmente, o percentual de escolas brasileiras públicas e privadas, do infantil ao médio, que tratam do tema de alguma forma, desde debates raros a programas consistentes, ainda não chega a 20% no total. Esse baixo percentual pode se dar, entre escolas particulares, pela falta de disposição dos proprietários e administradores para enfrentar barreiras importas, como por questões morais e religiosas, por pais e familiares contrários à educação sexual.

       Mas por que tratar deste tema ainda é um tabu? Para a especialista Mary Neide, o problema está em “achar que, se falar sobre sexo com as crianças e os adolescentes, eles vão querer fazer sexo. Esse é um tabu, um mito muito grande. Tanto professores quanto pais, mães, profissionais da saúde e de outras áreas ainda acreditam nisso”. A pesquisadora ainda enfatiza: “Estudos feitos no Brasil e no exterior comprovam que crianças e adolescentes que têm uma boa educação sexual em casa e, sobretudo, na escola vão deixar para iniciar sua vida sexual mais tarde em comparação aos que não têm, e isso ocorre porque eles passam a entender a seriedade que é iniciar a vida sexual”.

       Mary Neide explica que, entre os temas abordados, estão a gravidez, o namoro, a masturbação, o relacionamento. A especialista acredita que a educação sexual desempenha um papel importante na prevenção de gravidez na adolescência, no combate ao abuso sexual, o machismo, o sexismo, a violência e preconceitos. “A educação sexual é importante para que a criança e o adolescente sejam sujeitos do seu corpo e da sua sexualidade, com liberdade e responsabilidade”, afirma.

       Em 2018, a OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgou um relatório mostrando que o Brasil tem gravidez acima da média latino-americana quando se trata de mães jovens. O levantamento indicou que, a cada mil garotas, 68,4% se tornam mães antes dos 20 anos. Os dados de transmissão de infecções sexualmente transmissíveis também são alarmantes: nos últimos 10 anos, o número de novos casos de HIV diagnosticados no Brasil quase triplicou entre os jovens de 15 a 24 anos. 


Foto por Getty Images

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), em 2015, dos adolescentes do 9º ano do Ensino Fundamental sexualmente ativos, 33,8% disseram não ter usado camisinha na última relação sexual. Apesar disso, 7 em cada 10 afirmaram ter recebido informação a respeito na escola. Mas apenas passar a informação não é suficiente. A educadora sexual Lena Vilela, de 63 anos, explica que existem abordagens mais adequadas para cada faixa etária: “Nas aulas de ciência, a partir do 7º ano, é preciso conversar sobre o impacto da puberdade no corpo do adolescente para desenvolver responsabilidade e consciência para a proteção de doenças e gravidez”.

Além disso, a falta de uma reflexão mais ampla sobre a sexualidade humana também enfraquece o combate ao preconceito, ao abuso sexual infantil, à violência contra a população LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) e contra a mulher, sendo estes tópicos fundamentais para o Brasil, que convive com índices preocupantes de crimes dessas naturezas.