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Review | The Legend Of Zelda: Breath Of The Wild

Por Icaro Rojo Sartorato

Disponível para as plataformas Nintendo Switch e Wii U, o RPG de mundo aberto The Legend Of Zelda: Breath Of The Wild é o décimo nono título da aclamada série The Legend Of Zelda, publicada pela Nintendo. Confira a análise e entenda porque o jogo reinventa e expande os horizontes, quebrando convenções e moldando o futuro da franquia com excelência.

PREFÁCIO

Breath Of The Wild faz com que você presencie e acompanhe o renascimento de um herói, trilhando com base em suas experiências, uma jornada lendária que abraça a inocência narrativa do protagonista e do jogador. Através de gráficos surreais, o jogo se aproveita de uma lógica real para desprender-se de conceitos e padrões definidos durante seus 30 anos de história, realizando o descobrimento de sua própria essência, rebuscando um elemento que fora perdido na série, a liberdade.

Por décadas, Zelda, assim como outros jogos, restringiram o jogador com base em um level design que usufruía de itens específicos para que o avanço dos personagens ao longo da narrativa fosse concretizado, assim conjurando uma ilusão de um mundo ilimitado. Com determinados recursos, você poderia atingir tais objetivos e progredir na história após tê-los feito.

Inovando, Breath Of The Wild possui uma abordagem diferente, a qual trata o jogador como um aliado, não como um obstáculo, onde a curiosidade é celebrada ao invés de restringida. Aqui, o conceito de liberdade é resgatado e ampliado, ao mudar de um design passivo, onde você experimentava a forma que o desenvolvedor havia imaginado, para um design ativo, onde o jogador pode interagir ativamente com o mundo. Além disso, tudo aquilo que você aprende é de forma orgânica, seja observando elementos do cenário ou simplesmente testando suas habilidades, sem haver interrupções na jogatina.

HISTÓRIA

Após a vitória de Ganon que culminou na destruição parcial do reino, Link desperta e depara-se com ruínas que emanam um tom melancólico. A Hyrule apresentada não está apenas devastada, mas exausta, marcada por cicatrizes causadas pelo ciclo árduo de batalhas entre o bem e o mal. Sob um estágio de amnésia que ainda condiciona recordações antigas, o jogador controla o herói, que desbrava territórios decadentes e transfigurados, tendo em vista resgatar a princesa, e derrotar seu nêmesis.

A história não é um destaque, pois se aproveita do clichê da "princesa salva", mas de alguma forma, devido ao seu atributo não-linear, ela acaba ficando em segundo plano. A priorização da jogabilidade fica implícita simbolicamente nas construções visitadas durante o jogo, que nada mais são do que ruínas de seu antecessor, Ocarina Of Time. Desse modo, além de remeter nostalgia, essas localidades supõem que a empresa está tentando demonstrar que esse modelo entrou em colapso e está ultrapassado.

Por outro lado, existem diversas side quests presentes, oferecendo mais tempo de vida útil ao jogo, enriquecendo o universo da história e consequentemente, promovendo mais diversão.

JOGABILIDADE

O princípio da ação e reação é um dos principais fatores responsáveis pelo diferencial do título, em virtude deste ser baseado integralmente nas leis da física e da lógica. Com controles responsivos, Breath Of The Wild consegue imergir o jogador e gerar um sentimento de potência para realizar qualquer ação disponível.

De início, a sensação de liberdade espanta, se antes havia uma ordem certa para enfrentar os perigos, agora o jogador pode executá-los em qualquer sequência, e não demora muito para perceber a capacidade de seguir diretamente para o último chefe do jogo, se assim desejar, no entanto, o usuário tem de ter claro que as chances de derrota são altas, caso esteja despreparado e com poucos recursos.

Dentre os recursos acessíveis, podemos citar: armaduras com propriedades diferentes, armas, arcos, flechas, escudos, elixires, alimentos e a roda de estâmina. Algumas das armaduras são responsáveis por manter sua temperatura estável, escalar mais rápido, etc. Até as armas mais poderosas quebram, devido à sua durabilidade, mas essas ainda são suas maiores aliadas em combates corpo-a-corpo, contando com diferentes efeitos que podem ser aplicados à certos inimigos. Os arcos fazem conjunto com as flechas, que podem ter características elementais favoráveis ou não diante de determinadas situações.  Os escudos podem ser usados tanto para a proteção contra-ataque letais quanto para o Shield Surfing ("Surfar no Escudo"). Como se não bastasse, está à disposição um sistema amplo que compreende a criação de elixires mágicos e o ato de cozinhar alimentos para fornecer condições bônus ao herói.

A roda de estâmina é um artifício indissociável do protagonista, sendo sua fonte de energia vital para nadar, escalar, correr e voar (paraglider). A cada 4 santuários concluídos, ao orar para as estátuas da Deusa Hylia, espalhadas pelo mapa, o jogador tem a possibilidade de incrementar seu vigor ou optar por ter um coração extra.

 

AMBIENTAÇÃO

A notoriedade do game encontra-se principalmente na ambientação bem elaborada da imensa Hyrule, a cada nova área descoberta uma emoção íntima e genuína de satisfação é despertada, instigando ainda mais a curiosidade. "Não importa para qual lugar você irá: é o caminho certo". Esse processo é causado pelo que os desenvolvedores chamam de design gravitacional, que de forma progressiva e não linear, faz com que os jogadores orbitem acerca de pontos de interesse simultâneos espalhados pelo cenário.

Para realçar ainda mais o aspecto imersivo, temos as diferentes condições climáticas que dependem de dois coeficientes, o local e o tempo. Caso esteja chovendo, suas flechas de fogo transformam-se em flechas comuns, a investida contra o topo da montanha torna-se escorregadia e muitas vezes ainda existem riscos de raios, atraídos por objetos de metal. Quando o ar é gélido, Link treme de frio e recebe dano após alguns segundos, assim como no clima encontrado no deserto, que faz a secura ser palpável, como se a temperatura fosse impossível de suportar.

Concomitante à parte gráfica, tem-se a trilha sonora com melodias e harmonias executadas com perfeição, que quando tocadas no momento propício são capazes de provocar sensações de tensão, afeto, curiosidade, espanto, etc.

Assim como no filme A Viagem de Chihiro (2001) de Hayao Miyazaki, o mapa de Breath Of The Wild é um experimento bem-sucedido da utilização do "Ma", palavra japonesa que expressa um vazio intencional, um movimento gratuito onde haverá contemplação e absorção do universo com os personagens que o completam. Muito mais que um simples plano de fundo, esse vazio representa uma parte da composição essencial do ambiente, trazendo consigo sensações de tempo e espaço, e conscientemente inserindo cada vez mais o usuário na narrativa.

VEREDICTO

The Legend Of Zelda: Breath Of The Wild é o jogo da série que merecemos para essa geração. A Nintendo acertou em quebrar o clima de "mais do mesmo" e nos trouxe algo novo e de muita qualidade, tornando o título não apenas um grande jogo, mas sim um dos melhores games de todos os tempos. É mais que justo que dizer que esse é o sucessor espiritual de Ocarina Of Time e que vai servir como paradigma de qualidade para os próximos RPGs.