Entre cortes e acidentes, Regina Duarte ainda é o menor dos problemas da Cinemateca
por Larissa Godêncio
Reprodução: site oficial da Cinemateca
Quando a atriz Regina Duarte foi movida da Secretaria de Cultura para a direção da Cinemateca, muita gente foi pega de surpresa – inclusive os próprios funcionários, pois havia sido prometida a um cargo que sequer existia já que a instituição é administrada pela Associação de Comunicação Roquette Pinto (Acerp) desde 2018. Dias depois a situação se complicou ainda mais quando o governo federal propôs o fechamento desse mesmo edifício sem explicar o que fazer com seu acervo, contratos e mais de cem funcionários.
São ideias confusas em uma trama de reviravoltas e atrasos, mas que ainda parecem o menor dos problemas para a equipe da instituição, que dias atrás quase teve a energia elétrica cortada por inadimplência. A dívida, que chega a quase 500 mil reais, precisou da interferência do vereador Gilberto Natalin (PV) para ser renegociada com a Enel, mas não conseguiram a mesma sorte com a empresa responsável pela refrigeração, que cancelou o contrato após falta de pagamento. Além disso, funcionários entraram em greve após três meses de salários atrasados e o repasse anual, que deveria solucionar todos esses problemas, nunca chegou por problemas jurídicos entre a Secretaria de Cultura e a Acerp.
Funcionários da Cinemateca fazem protesto em frente ao edifício.
Com cerca de 245 mil rolos de filmes e 30 mil títulos que vão de cinejornais à documentários, é difícil imaginar que o maior acervo de filmes da América Latina tenha chegado a uma situação tão critica; pior, que mesmo agora falte organização para trazer esses problemas à tona e resolvê-los. “Nós, Cinemateca e Acerp, pretendemos estudar e implantar uma perspectiva de médio a longo prazo porque a política que devemos adotar é uma que tenha continuidade entre governos” comenta Lucio Aguiar, superintendente da Cinemateca, em entrevista à BandNews. Mas o Brasil segue na direção oposta e insiste em buscar sempre as soluções mais rápidas, fazendo com que logo esses problemas ressurjam em proporções maiores. Anos atrás, quando a instituição já estava em crise e havia passado por um incêndio recente, o governo não hesitou em passa-la para o controle privado e lavar as mãos; hoje, é essa mesma parceria dificulta a entrada de verbas e a afunda em problemas.
Porém a questão é muito maior do que esse ou aquele partido político. Cultura e educação sempre foram áreas ignoradas pelo Estado, ora relegadas à própria sorte e ora usadas de bode expiatório para politicagens, como no caso de Regina Duarte. A Cinemateca não chegou nesse ponto do dia para a noite: desde 2013 ela vinha sofrendo cortes de orçamento, em 2016 enfrentou um incêndio que destruiu parte de seu acervo e, no começo desse ano, teve de lidar com galpões alagados. “Você vê que não tem uma continuidade entre um governo e outro” continua Lucio, “Não basta falar “Ah, verba para a educação, educação isso, educação aquilo” [...] Não tem educação sem cultura, da mesma forma que não tem cultura sem educação. É uma mão dupla”.
Olga Futemma, coordenadora da Cinemateca, mostra o acervo da instituição.
Reprodução do site Revista Museu
Portanto, fica evidente que a questão é mais do que administrativa. “Se você não trabalha para difundir você só está guardando, o que também tem seu valor, informação nas estantes... O desafio é ter esses recursos que possibilitem a preservação e a inovação.” Conta Olga Futema, coordenadora geral da Cinemateca, em entrevista à BandNews. A volta de investimentos é essencial, porém falta uma solução definitiva para devolver o reconhecimento e atenção que a instituição carece a tanto tempo.