Documentário “Framing Britney Spears” escancara abuso psicológico sofrido pela cantora
Você
se lembra quando Britney Spears apareceu, em 2007, com a cabeça raspada, os
olhos arregalados, numa nítida crise de saúde mental? Ela foi alvo de piadas e
ridicularizada. Faltou empatia.
A cantora sofreu emocionalmente durante anos, foi explorada. E são sobre esses momentos conturbados que o documentário “Framing Britney Spears” fala. A produção é do canal FX em parceria com o jornal “The New York Times”. No Brasil, é disponibilizado pelo serviço de streaming GloboPlay.
Foto: Reprodução
Este
não é um documentário com grandes revelações a serem feitas. A força do projeto
está na retrospectiva de Britney Spears, como a “princesinha do pop” se tornou
um fenômeno global e como sua vida pessoal vem desmoronando. Pessoas próximas e
advogados ligados à sua tutela falam sobre sua carreira, enquanto ela, aos 39
anos, briga com o pai na justiça para ter o controle de sua vida e direito aos
seus bens.
Algo
que imediatamente choca o público é a perspectiva do filme em mostrar como a
fama pode ser cruel, especialmente para as mulheres – naquela época, e até os
dias atuais. Antigamente, mais do que nunca, a sexualização de meninas
adolescentes era tolerável e a sexualidade delas era discutida de maneira
grosseira e invasiva. Como numa entrevista onde um jornalista britânico diz à
cantora: “Tem outro assunto que ainda não falamos e que está todo mundo
comentando. Os seus seios”. Britney tinha 16 anos. Ela apenas sorri, claramente
desconfortável.
Em
outro momento chocante, um apresentador pergunta para a pré-adolescente Britney
se ela tinha namoradinhos, depois de falar que seus olhos eram lindos. Ela
responde: “garotos são maldosos”. Ele retruca: “Eu não sou maldoso. O que acha
de mim?”. Britney sofre com comentários machistas desde quando despontou, ainda
criança. O documentário mostra diversos outros momentos onde a garota tem que
responder perguntas constrangedoras sobre sua sexualidade em programas de TV.
Polêmicas
também envolvem seus relacionamentos. Na virada de 1999 para 2000, Britney e
Justin Timberlake formaram o casal mais falado dos Estados Unidos na época. O
namoro, porém, durou pouco. Timberlake saiu com a imagem de vítima, injustiçado.
Enquanto Britney saiu como a “vagabunda que o traiu”.
Se
casou com Kevin Federline, com quem teve dois filhos. Ao se divorciarem,
Britney entrou na justiça pela guarda das crianças. 2007 foi o ano de colapso,
a ruína de Britney. Numa noite, ao visitar os filhos, a cantora foi seguida por
fotógrafos e ao implorar para que parassem de persegui-la, foi ignorada. De
cabeça raspada, com a saúde mental claramente fragilizada, Britney pegou o
guarda-chuva e bateu em seus carros.
Ela
passou a ser considerada louca, descontrolada. Perdeu a guarda dos filhos e foi
internada numa clínica de reabilitação. Foi declarada incapaz pela Justiça.
É aí que seu pai, Jamie Spears, entra na história. Ele, que sempre fora ausente, assumiu o controle da vida pessoal, profissional e financeira da filha. E permanece dessa forma até os dias atuais. Ele decide quando ela fará shows, o que ela vai gravar, para onde viaja e o que compra. Tudo indica que a cantora só aceitou essas condições para poder continuar com seus filhos. Ela nunca quis que o pai fosse seu tutor, mas sim uma empresa independente.
Foto: Reprodução (AFP)
Desde
então, uma teoria roda a Internet: Britney Spears está presa nas garras do pai
há 12 anos e ela usa o Instagram para mandar mensagens secretas, denunciando a
situação. A campanha #FreeBritney surgiu. Fãs sobrem a hashtag em redes sociais
e marcham segurando enormes cartazes pedindo que a cantora seja libertada.
Cada
ação de Britney é abertamente julgada em público. A maneira como se veste no
palco, o fim do relacionamento com Justin Timberlake, o noivado relâmpago com
Kevin Federline, o divórcio, a forma como cria os dois filhos, a briga pela
guarda das crianças, o ganho de peso, a crise de saúde mental que sofreu...
“Framing
Britney Spears” retrata como a mídia e as pessoas foram tóxicas com a cantora.
Serve de alerta sobre a violência psicológica e os julgamentos sem limites, que
podem causar danos irreparáveis na vida de um ser humano.