Anúncio

Recentes:

Somente em 2019, 124 transexuais foram assassinados no Brasil

Por Carol Solis

  Em 2019, o Brasil ficou em 1º lugar no ranking mundial de países que mais matam pessoas transexuais. Segundo o dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), somente no ano passado, 124 transexuais e travestis foram assassinados. No Brasil, em média, 11 pessoas trans são agredidas a cada dia.   
    

Foto: Reprodução (TV Globo)

Na última semana, um caso ocorrido no Rio de Janeiro assustou a todos. Na noite de domingo (16/08), a modelo transexual Alice Felis foi agredida brutalmente e roubada dentro de seu apartamento. Um suspeito foi encontrado pela polícia. Alice foi à delegacia e o reconheceu como o autor das agressões.

Lucas Brito Marques estava foragido depois de ter espancado a modelo transexual Alice Felis, que teve o nariz e maxilar quebrados. Alice contou que os dois se conheceram no sábado (15/08), num bar. Conversaram e decidiram ir para a casa da modelo. Ela relata que eles beberam, e então, as agressões tiveram início. “Ele pegou no meu pescoço, me jogou no chão e foi me arrastando. Dali, começou a me bater, me esmurrar, me dar soco, me xingar. Ele quebrou meu maxilar, o meu nariz. Estou com a boca costurada, tive ponto. Ele tentou me esfaquear. Foi bem constrangedor, bem difícil, mesmo", Alice relembra.

A advogada de Alice, Feh Oliveira, afirmou que o homem já tinha histórico de crimes contra transexuais. “Ele já tinha passagem pela polícia por furto, por roubos. É uma pessoa conhecida em Copacabana, acostumado a aplicar golpes em travestis, em transexuais". Segundo a delegada do caso, Bianca Lima, o crime impressionou pela extrema violência. “A gente percebe, pelo depoimento da vítima, que existia algum tipo de discriminação”, destacou Bianca.

 O homem foi preso na manhã desta quinta-feira (20/08), após Alice o reconhecer pessoalmente. Lucas já tem 20 passagens na polícia por roubo, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo – ele vai responder por tentativa de latrocínio, que é roubo seguido de morte.

Alice está aliviada pela prisão de seu agressor, mas ainda não se sente segura. A modelo irá para Santa Catarina realizar a cirurgia de reconstrução facial, que será feita por um médico de Blumenau. 

Imagem: Agência Fotec (Site)

Casos brutais como o de Alice fazem com que discussões sobre a agressão contra pessoas transexuais venham à tona. Um levantamento exclusivo da Gênero e Número a partir de dados do Ministério da Saúde releva um aumento de 800% das notificações de agressões contra a população transexual; de 494 notificações em 2014 para 4.137 em 2017. Tocantins é o estado com maior taxa de violência. “Mais do que alcançar leis e proteção, nossa maior luta, como pessoas trans, é fazer com que as pessoas entendam que somos pessoas. E que por isso não podemos mais admitir esse processo de desumanização que permite que se cometa todo tipo de violência e violação, inclusive levando à morte”, destaca Bruna Benevides, secretária de Articulação Política da Antra e membro da Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBTI+ (Renosp-LGBTI+).

  Os dados mostram que as agressões contra pessoas transexuais têm influência racial. Em 2017, a maioria das vítimas eram negras (57%), seguida de brancas (41%), indígenas e amarelas (1%).

 O Observatório Legislativo da Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro (Olerj) entrevistou Jaqueline, uma, travesti que trabalhou nove anos como prostituta e foi vítima de violência. Estava na pista e parou um carro cheio de rapazes que começaram a xingar, jogar ovos, até o extintor de incêndio, tapetes... tudo para agredir. E desceram do carro para agredir”, ela conta. Questionada sobre possíveis saídas e soluções para este problema, ela respondeu: “Acho que uma lei de punição nos casos de violência e preconceito. Mas uma lei severa, principalmente nos de mortes. E também acho que a gente deveria ter oportunidades no trabalho, de capacitação, para não ter como única opção a prostituição”.  

 Desde quinta-feira (13/08), as delegacias da mulher de São Paulo passaram a atender transexuais. Uma determinação da Polícia Civil define que sexo biológico não interfira para que transexuais sejam atendidas por essas unidades especializadas em casos de violência doméstica, familiar ou crimes contra a dignidade sexual. “A intenção foi deixar claro que nós não atendemos essas vítimas conforme o sexo biológico, mas sim pela maneira como elas se enxergam", disse a delegada Jamila Ferrari.